A lenda do Barbadão

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No norte de Portugal, mais precisamente na zona de Barcelos, pode ser encontrado o chamado Solar dos Pinheiros, em que está representada uma figura muito conhecida sob o nome de Barbadão. Que ela está, de alguma forma, relacionada com o fundador da casa (Pedro Esteves, em 1448), ou com o seu filho deste (Alvaro Pires Pinheiro Lobo, que ergueu as respectivas torres), parece-nos quase óbvio, mas que lenda se esconde neste local?

 

Neste caso específico o problema não se prende tanto com encontrar uma lenda associada ao local, uma que possamos recontar aqui, mas com a existência de diversas histórias que lhe estão associadas, sendo difícil saber qual, se alguma, era a original, a "verdadeira", por detrás da famosa representação. Como tal, contamos aqui duas breves lendas que aparecem associadas ao local, e que parecem contar-se entre as mais famosas.

 

A primeira diz que o homem aqui representado era o fundador desta casa, que queria construir enormes torres no local, nem que para isso tivesse de "empenhar as suas barbas". Porém, o primeiro Duque de Bragança, Dom Afonso, não permitiu que isso fosse feito, por razões desconhecidas, e então as torres passaram a ter uma representação alusiva à expressão, como que a dizer "eu até teria empenhado as minhas barbas para as ter construído maiores".

 

Uma segunda diz que o Rei Dom João I se apaixonou por uma Inês Pires [Esteves?], que era desta família, no que poderá ter sido uma de muitas infidelidades do monarca. A relação extraconjugal manchou bastante a honra do pai dela, levando-o a proclamar que, em detrimento de vingar toda a afronta matando o novo monarca, jamais tornaria a cortar as suas barbas, que eram então um símbolo de honra. Depois, o rei lá veio a admitir a relação extraconjugal, e a dar nome ao filho nascido dela, mas o avô da criança jamais tornou a cortar as suas barbas, fruto da promessa que um dia tinha feito, ficando com o nome de Barbadão e tornando-se uma espécie de símbolo que depois viria a ser representado neste local.

 

Não sabemos, repita-se, qual destas duas lendas terá sido a "verdadeira", aquela que gerou a representação que hoje ainda pode ser vista no Solar dos Pinheiros. Poderá ter sido uma delas, ou o busto poderá ter ido parar ao local por uma qualquer outra razão que o tempo fez esquecer. Porém, o que sabemos é que esta representação de um homem com longas barbas, numa pose em que parece quase querer arrancá-las, ou terá inspirado diversas lendas, ou terá de alguma forma obtido a sua inspiração por elas. É uma de aquelas situações do ovo e da galinha, em que é muito difícil saber-se se a representação veio de alguma lenda do Barbadão ou vice-versa, só restando concluir que existe, sem quaisquer dúvidas, uma relação palpável entre ambas, mesmo que já não se consiga (agora) ter a certeza de qual é ela...

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