GUERRA DE TRONOS NA SÉ VELHA

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No início desta semana, muito moradores nas ruas em volta do largo da Sé Velha foram surpreendidos com uma carta não endereçada, sem data e logótipo da Organização da Queima das Fitas a condicionar a circulação dos moradores entre os dias 23 a 31 de Maio. Isto a propósito da Serenata que se realizará nas escadas da Sé Velha.

A realidade é que só a autarquia é que pode aprovar o condicionamento da circulação, seja a peões seja a veículos motorizados ou não. Às vezes com o auxilio da segurança pública da Polícia de Segurança Pública (PSP) ou até mesmo com a Polícia Municipal (PM).

Pelo direito à propriedade, segundo a Lei n.º 83/2019, de 03 de Setembro, é importante lembrar que, em geral, a lei protege o direito de propriedade e o direito de acesso à habitação, pelo que o condicionamento da circulação deve ser regulamentado para não prejudicar injustamente os moradores.

Não estando prevista, nem é desejável, que a Organização da Queima das Fitas (OQF) se substitua à Câmara Municipal de Coimbra, é demasiado inusitado que o aviso e o processo de condicionamento de moradores, de comerciantes, e outros profissionais, venha da parte de um grupo académico que organiza a Queima das Fitas.

O Ponney recorda que no ano passado, de 2024, houve uma enorme polémica sobre a continuidade da Serenata Monumental se realizar, como habitualmente, na escadaria da Sé Velha ou não. Com o executivo da CMC a considerar que não. Mas ainda assim, a Serenata teve a coragem dos estudantes e acabou por ser realizada como manda a tradição académica.

Neste ano de 2025 a Serenata Monumental regressa ao habitual local, mas condicionada a um determinado número de estudantes e isso foi amplamente anunciado. O que não foi anunciado, nem discutido com a população do largo da Sé Velha e das ruas circundantes.

Falamos da rua do Colégio Novo, rua Joaquim António de Aguiar, rua da Ilha, rua da Estrela e alguns condicionamentos na rua de São João - estas são as ruas apontadas na carta da OQF e assinada pelo “Comissário da Tradição”, José Dias.

A forma como está redigida a carta tem o que podemos chamar de uma certa veia satírica pelo que se arroga detentora de autoridade civil.

Diz a carta com logo da OQF: «A todos os moradores e funcionários dos estabelecimentos locais é garantido o acesso e livre-trânsito mediante à apresentação de uma pulseira, que será fornecida por nós. Para isto será necessário indicarem, com comprovativo válido, o número de moradores ou trabalhadores do estabelecimento, de maneira a ser entregue o número correspondente de pulseiras. »
Muito moradores acham “estranho as pessoas darem os seus dados à organização da Queima das Fitas”.

Quanto ao “comprovativo válido” não há exemplo de que documentou ou procedimento se trate. Não se sabe se são as faturas da água ou da luz, mas estas apenas consta o nome de uma pessoa. Talvez um documento passado pela Junta de Freguesia que prove que X pessoas moram ali. O que nos coloca outra questão: os clientes dos alojamentos locais (AL)? Vão à freguesia ou têm que pedir carta ao próprio AL?

Depois a carta, que surpreendeu os moradores e lojistas, diz que as pulseiras serão deixadas “na caixa de correio de cada casa ou deixadas por debaixo da porta”. O que, de facto, adensa mais o mistério.

O Ponney enviou na quarta-feira dia 14 de Maio de 2025, algumas perguntas sobre esta circular para o endereço de email que vinha na carta e até à data de edição ainda não tivemos resposta. Ligámos para o número de telemóvel várias vezes e não fomos atendidos.

Estamos a questionar se esta carta não será apenas uma brincadeira estudantil. Se assim for a OQF tem que transmitir um desmentido público e deve averiguar quem fez a brincadeira ou então deve um pedido de desculpas público à velha cidade de Coimbra.

O certo é que já andam a falar em Coimbra que este grupo de estudantes universitários aprenderam com o Reitor Amílcar Falcão. Pois este Reitor entendeu optar pela proibição de consumo de carne de vaca nas cantinas da UC em vez de discutir, de maneira pedagógica, o consumo ou não de carne. Se a intenção era reduzir o consumo de carne de vaca a proibição de nada vale, já a pedagogia (que ainda é a missão principal de uma qualquer universidade) tem o valor de consciencializar.

Alguns moradores, que não desejam ser identificados, já consideram que há muitos jovens a “aprender o uso mais fácil do verbo proibir”.

Vamos aguardar novidades desta situação.

JAG
16-05-2025