UC APLICA A FRASE “EM CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU”
O senhor Reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão revelou esta semana que a UC já captou mais de 60 milhões de financiamento europeu para a inovação e investigação, numa das sessões da XVIII Cotec Europe, que decorreu no Convento São Francisco.
No entanto, na semana passada O Ponney informava que a Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra (CTUC) pediu a palavra, fazendo recordar o famoso acontecimento académico em Abril de 1969 “peço a palavra” de Alberto Martins, para expor a precariedade dos investigadores da UC, com graves problemas que são transversais aos investigadores nacionais. Esta precariedade, que grassa entre os investigadores, coloca o desenvolvimento da ciência e da tecnologia portuguesa em risco de empobrecimento.
Amílcar Falcão começou por esclarecer que a UC tem “a sua própria estratégia na inovação” e que esta tem gerado, nos últimos anos, muitos frutos para a instituição "A inovação para funcionar tem que ter um modelo de negócio”mas é um “modelo de negócio” onde os investigadores têm bolsas ou contratos de trabalho precários. Sem qualquer perspetiva para o dia seguinte a não ser esperar uma bolsa ou terem um contrato limitado no tempo até atingirem a reforma.
Enquanto o Reitor da UC, diz em discurso que a instituição tem conseguido captar muito financiamento através do quadro de financiamento Horizonte Europa. Os investigadores precários dizem que «não pode continuar a haver um investimento pontual para um problema permanente».
Se por um lado o argumento da reitoria justifica que a não contratação de investigadores seniores, com diversos projetos aprovados pela FCT, é porque a UC não tem financiamento.
Por outro lado o Reitor afirmou, no dia 14 de Maio no Convento de São Francisco que: «Temos bastante financiamento a nível europeu. Somos a instituição de ensino superior que mais conseguiu captar financiamento em Portugal. Já vamos acima dos 60 milhões de financiamento europeu para a inovação neste quadro de financiamento e ainda temos mais três anos. No último quadro conseguimos apenas 40 milhões de euros por isso vamos seguramente dobrar o financiamento. Além disso, nos últimos seis anos também conseguimos duplicar o número de patentes que temos.»
Uma outra realidade se passa na UC e é transmitido na primeira pessoa por investigadores, no artigo da semana passada de O Ponney que dá voz a uma investigadora precária que disse: «o problema não é só do financiamento. É também um problema de deficiente gestão. Pois cada projeto aprovado pela FCT, formando uma bolsa que suporta grande parte dos investigadores precários, tem, o investigador, de entregar uma parte desse valor para a universidade. São os “overheads” entregues às universidades, vindos da verba para o projeto de investigação científica. Mas também todo o trabalho, que os investigadores produzem nas universidades não remunerado. Esse capital está a ser bem administrado?»
Em discurso o Reitor diz que Portugal é “pequeno” para o que a UC deseja “ao nível da inovação”. Também dá conselhos aos empresários a mudarem de mentalidade. Mas tal como o ditado popular que diz “em casa de ferreiro, espeto de pau” pois disse o Reitor: «Os nossos empresários não podem continuar a contratar três pessoas de salário mínimo em vez de um doutorado. Têm que investir na inovação», porém a UC não contrata quem desenvolve a Ciência e que é doutorado.
Em oposição ao discurso do Reitor da UC, os investigadores disseram a O Ponney «pelos discursos que oiço, até parece que os investigadores não produzem! Nós, investigadores, temos a responsabilidade de orientar, sobretudo na parte técnica, as teses de mestrado; orientamos alunos e os projetos de investigação são, também, elementos valiosos para chamar mais alunos. Mas de facto parece que algumas universidades não querem fazer essas contas.»
«O investigador com 50 anos já é considerado velho, mas um docente continua a carreira. O que é contraditório e injusto para os investigadores quando uma reitoria fala do “rejuvenescimento dos investigadores”. Quando os investigadores seniores têm um acumular de experiências e uma riqueza adquirida que deve trabalhar em conjunto com os mais jovens investigadores. Perder este conhecimento é um erro crasso na gestão do conhecimento, juntamente com a gestão errática do financiamento.»
É mais fácil ao Reitor da UC, Amílcar Falcão, dar conselhos aos empresários quando não os segue na Universidade de Coimbra.
Ficamos a aguardar que as palavras do discurso se concretizem na UC.
FG