O TINDER DOS ANANASES

JO JONES5

 

Vivemos tempos estranhos, meus amigos. Tempos em que até os supermercados, outrora o reduto sagrado das compras do dia a dia, se transformaram em cenários de encontros românticos dignos de uma comédia de costumes.

Se ainda não ouviram falar, preparem-se!

O novo "Tinder" da moda é a Mercadona, e o protagonista desta trama não é outro senão o ananás. Sim, leram bem. Agora, o ritual para encontrar o amor envolve pegar num ananás, virá-lo de cabeça para baixo no carrinho das compras, e passear entre as prateleiras na esperança de um "acidente" conveniente com outro carrinho.

Quem diria que o cupido do século XXI viria com espinhos?

A minha mãe, a nossa Fernandinha, que com os seus 84 anos ainda dá cartas no que toca a meter-se na vida da filha, não perdeu tempo em embarcar nesta nova moda.
- Olha filha, temos que ir ao Mercadona.
-Eu também quero arranjar um rapaz da minha idade para dar uns passeios de carrinho.
- E se ele me levar a passear, até meto três ananases e três melões!
Disse isto com um sorriso tão travesso que quase me convenceu a levá-la. Mas logo lhe expliquei que, por mais tentador que pareça, talvez não fosse a melhor ideia.

Como se eu não conhecesse a mãe que tenho, a resposta veio certeira. - Pois é, filha, e foi por não ires a estas modernices que não tiveste sorte com os casamentos.
-Devias era ter comprado uns tomates maduros!
Ri-me, claro, mas não resisti a perguntar: -Tomates, mãe? Mas para quê?

Com aquele ar de sabedoria irónica que só as mães sabem ter, ela disparou: -Para correres com eles à tomatada e não te terem aborrecido tanto. Gostava de morrer e ver-te feliz, mas não sei se vais lá com um ananás nas mãos!

Olhando para trás, tenho de concordar que a minha mãe tem razão, pelo menos numa coisa:um ananás virado ao contrário pode ser bom para umas gargalhadas, mas não é bem o meu estilo.

Sou uma mulher de causas, de paixões que vão além das modas passageiras.

Para mim, o amor verdadeiro não se encontra entre as prateleiras do supermercado.
Prefiro um jantar de amigos, uma exposição de arte, uma ida ao teatro, ou, quem sabe, um evento de apoio a quem mais precisa. Lugares onde as conversas têm substância e as ligações se fazem de alma e coração.

Não que eu tenha algo contra quem adere a esta nova tendência. Quem sabe, talvez funcione para alguns.

Mas para mim, o romance deve ser mais do que uma troca de olhares apressados no corredor dos frescos. Deve ter a profundidade de uma conversa que se prolonga noite adentro, o calor de um sorriso cúmplice durante um debate sobre uma causa comum.

Não vejo a minha vida a cruzar-se com a de alguém enquanto discutimos a melhor forma de cortar um ananás. A menos que estejamos a preparar um jantar solidário, claro!

E quanto a esta moda dos “ananases virados”, por mais que me divirta, não posso deixar de sublinhar: - cuidado com os exageros. O supermercado é um espaço público, e, se bem que seja um palco improvável para o romance, deve ser respeitado como tal. Não precisamos de confundir uma ida às compras com um encontro às cegas.

Há lugares melhores para se encontrar alguém especial, onde as histórias começam de forma mais natural e, quem sabe, mais duradoura.

Por isso, se me perguntarem se estou pronta para aderir a este "Tinder dos Ananases", a resposta é simples: Prefiro os tomates maduros, e não só para a tomatada.

Prefiro as causas justas, os encontros que nascem de interesses comuns e a companhia que se conquista com partilhas genuínas, não com frutas tropicais.

O amor, para mim, tem de ter um significado maior, um propósito que vá além das tendências do momento.

Então, enquanto alguns percorrem os corredores do Mercadona à caça do próximo engate, eu continuarei a procurar o que realmente importa, onde as pessoas se mostram como são e as ligações se fazem de coração para coração.

Afinal, todos sabemos que os ananases são deliciosos, mas é nos momentos de verdadeira conexão que encontramos o verdadeiro sabor da vida.

Manuela Jones