ELÉTRICOS OU TRANSFORMERS?

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Com o argumento das medidas ambientalistas, os Governos mundiais vão aprovando cada vez mais medidas para obrigarem os automobilistas a usarem apenas os automóveis elétricos. Mas o que é que isso implica?

Apesar das falhas de fornecimento de peças e dos microprocessadores; dos preços altos da energia; das autonomias das baterias (neste momento a autonomia ronda os 400 km para os elétricos contra os 700 km, média, dos automóveis a combustão); as incertezas macroeconómicas e pelas questões de se colocar mais poder nas mãos de um único país - a China. Também não podemos esquecer que a China é considerado o país que mais poluição provocou, e ainda continua a provocar no mundo, o que acaba por levantar a questão se a passagem a veículos elétricos é uma medida bem estruturada para defender o ambiente mundial. Não esquecer a questão da exploração do lítio que tantas manifestações têm provocado.

A realidade é que em termos mundiais, a percentagem de automóveis elétricos vendidos saltou de 9% em 2021 para 14% em 2022 e em 2023, foram mais de 13,6 milhões de automóveis elétricos e híbridos vendidos globalmente. Em apenas 5 anos, de 2017 a 2023, as vendas mundiais de veículos elétricos passaram de 1 milhão para mais de 13,6 milhões anuais de unidades - o que sublinha a natureza exponencial do crescimento das vendas dos veículos elétricos.

A impulsionar esta tendência está sobretudo a Europa, que é o segundo maior mercado de veículos elétricos com a medida aprovada na UE e que vai proibir a venda de automóveis a combustão a partir de 2035, a que somam as pesadas multas por exceder a média legal de emissões dos modelos à venda.

Em Portugal, os elétricos representam 10,5% das vendas em 2022, quando em 2021 as vendas dos elétricos foram de 9%. Ainda em 2021, dos 180 mil automóveis ligeiros matriculados em Portugal, apenas 18 mil eram elétricos. Tendo sido vendidos, em Portugal no ano de 2022, 17.817 automóveis elétricos, contra 138.000 automóveis com motor a combustão. Mesmo que os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in ligeiros de passageiros atingem a quota de mercado mais alta do ano de 2024: 39%.

A Audi anunciou, em Julho de 2024, que tenciona encerrar a sua fábrica de viaturas elétricas em Bruxelas, devido a uma “descida mundial” da procura por estes veículos.
A fábrica, que emprega cerca de três mil pessoas, começou a produzir carros elétricos em 2018. No ano passado, nesta fábrica foram fabricados cerca de 50 mil veículos dos modelos SUV Q8 e-tron. Depois de terem investido massivamente nos veículos elétricos nos últimos anos, os construtores automóveis foram afetados pelo arrefecimento da procura no setor.

A Europa tem feito pouco progresso no que toca à redução dos preços dos veículos elétricos, aponta o estudo. Por este motivo, os compradores continuam ainda dependentes em larga medida dos subsídios governamentais. A redução no custo dos elétricos ainda não é expressiva no mercado europeu pois as fabricantes automóveis têm concentrado os seus esforços nos modelos premium ou em segmentos nos quais não existe tanta sensibilidade no que toca ao preço.

“O fim dos incentivos de apoio à aquisição dos veículos elétricos no exterior, nomeadamente na Alemanha, provocou uma queda imediata das vendas”, explica o presidente do conselho diretivo da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), Pedro Faria.

Em Portugal, o cenário é diferente e a aquisição de veículos elétricos continua a crescer. No mês de Maio verificou-se um aumento de 8,5% relativamente ao mês anterior. Mensalmente, são comprados cerca de 4 mil veículos 100% elétricos.

Os incentivos para a aquisição de veículos elétricos são uma das justificações para estes valores, assegura Pedro Faria. “Embora ainda se esteja à espera dos incentivos de 2024, eles continuam a existir e continua a existir um plano fiscal de apoio à aquisição para as empresas”, diz, acrescentando que em Portugal não se reflete, para já, a tendência europeia — "antes pelo contrário, continuamos com um forte impacto positivo no crescimento das vendas e assim se espera que continue.”

No início de 2023, o Governo alemão reduziu os incentivos à compra de veículos elétricos. Pedro Faria sublinha que “ainda é cedo para retirar esses apoios.”

“A partir de certa altura, eles têm que ser retirados gradualmente. Nós consideramos que ainda é muito cedo, mesmo na Europa, consideramos que é muito cedo”, defende.

O Orçamento do Estado que estava previsto para 2024 estimava um aumento do incentivo ao abate de veículos e a redução do teto máximo do apoio à compra de viaturas 100% elétricas. A queda do Governo de António Costa adiou a implementação desta medida, mas Pedro Faria garante que “o que estava previsto para 2024 é para cumprir”, segundo informação da tutela. Tanto a aquisição para os particulares via Fundo Ambiental, como o pacote de apoio às empresas, nomeadamente com o abatimento do IVA, vão manter-se.

Hélder Barata Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), sublinha que são precisas “mais medidas de apoio e incentivos" à compra de automóveis elétricos.

Da mesma forma, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, acredita que os investimentos têm de ser feitos também através de veículos elétricos, por exemplo nas infraestruturas de transporte público. Já no caso dos automóveis, Francisco Pereira sublinha que “é crucial que, à medida que os veículos vão chegando ao seu fim de vida, os motores de combustão sejam substituídos por veículos elétricos.”

Contudo, o presidente da associação ambientalista esclarece que “é necessário garantir preços atraentes e uma infraestrutura e custos que também estejam em linha e isso tem sido feito através de incentivos em vários países.”

Veículo a combustão ou elétrico? Qual fica mais em conta?
As opiniões dividem-se. O presidente do conselho diretivo da UVE garante que, considerando todos os custos, incluindo o de aquisição, “o custo total da operação, é muito inferior ao de um veículo a combustão.”

No entanto, o secretário-geral da Associação Automóvel De Portugal (ACAP) alerta: "a tecnologia do veículo elétrico é ainda uma tecnologia mais cara do que o veículo com motor de combustão", apesar da redução do preço final para o consumidor com base nos apoios do Estado. O apoio dos Governos à compra de carros elétricos, acaba por esconder o verdadeiro preço dos veículos elétricos.

“Os veículos elétricos são absolutamente essenciais para reduzirmos as emissões dos vários países, nomeadamente para conseguirmos alcançar as metas europeias traçadas no quadro da Lei de Bases do Clima”, defende o presidente da Zero.

Em Portugal e na Europa, o transporte rodoviário, principalmente à custa dos automóveis individuais, é o que representa uma maior percentagem de emissões, pelo que, defende Francisco Ferreira, “a descarbonização deste setor é absolutamente crucial”. Ainda assim, os veículos elétricos também têm a sua fatura de problemas ambientais, associados à necessidade de materiais raros como o cobalto e o lítio.

As baterias representam uma pegada ecológica relevante, mas o ambientalista acredita que “o impacto ambiental dos veículos elétricos é incomparavelmente menor”. “No caso do nosso país, onde nós temos eletricidade de fontes renováveis, isso significa uma enorme redução de emissões na operação destes veículos em comparação com motores a combustão”, notou.

Mas ainda outro problema se levanta na Europa, pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anda ainda preocupada com outra questão. Pois iniciou uma investigação contra as subvenções para os automóveis elétricos provenientes da China. «Olhem para o sector dos veículos elétricos. É uma indústria crucial para a uma economia ecológica, com um grande potencial para a Europa. Mas os mercados globais estão hoje inundados por carros elétricos chineses que são mais baratos. E os seus preços mantêm-se artificialmente baixos através da subvenção estatais gigantescas provenientes da China.» Segundo von der Leyen os subsídios para baixar o preço na venda dos automóveis elétricos estão a “distorcer” o mercado.

Porém os construtores automóveis chineses Xpeng e Nio anunciaram, em Julho deste ano de 2024, que vão manter os preços dos veículos elétricos no mercado europeu, apesar das taxas impostas provisoriamente pela UE a partir da última semana de Julho.

A Xpeng, que recentemente alargou a presença no mercado europeu, afirmou que os consumidores europeus que já encomendaram ou aguardam a entrega dos veículos "não vão sofrer um aumento de preços".

A empresa manifestou o compromisso com o mercado europeu e a intenção de atingir uma quota de mercado de 3% no segmento dos veículos elétricos na Alemanha até ao final do ano, de acordo com o portal financeiro Sina Finance.

Com tanta insistência da concorrência da China, a UE está a ponderar os combustíveis sustentáveis como solução para emissões neutras como é o caso do sistema a hidrogénio como possível solução.

AF