URGENTE GESTÃO SUSTENTÁVEL NA AGROINDUSTRIA

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Duas das formas de desperdício alimentar antes do consumo final acontece na cadeia de produção e fornecimento por questões de conservação, transporte, perecibilidade, etc., e pelo não aproveitamento de partes de alimentos, como cascas de frutos e legumes, que poderiam fazer parte de um produto, mas na forma em que se encontram não há aceitabilidade.

A solução para combater a primeira forma de desperdício passa por uma otimização do sector agroindustrial e identificação dos pontos fracos na cadeia de produção e distribuição. Esse desperdício atinge valores de 2 a 5% segundo a FAO (2021).

A solução para a segunda forma de desperdício, passa pelo uso racional destes resíduos através da identificação da sua composição e formulação de novos produtos. Importa ainda salientar que muitos resíduos como sementes e cascas tem alto valor nutricional e nem sempre são aproveitados. Um exemplo conhecido é o da abóbora que pode ser aproveitada integralmente. As sementes de abóbora possuem minerais como o magnésio e zinco, vitaminas A, E e do complexo B, e são fontes de hidratos de carbono, fibras e proteína. Já as cascas, muito pouco utilizadas, têm alto teor de fibras, para além de carboidratos, proteínas e antioxidantes através dos carotenóides que dão a cor alaranjada às abóboras, laranjas e outros frutos. Algumas empresas já identificaram o potencial destes alimentos, e comercializam, para além das sementes, as farinhas de casca de abóboras e de laranja, já disponíveis nos supermercados.

Há ainda outros resíduos, e de acordo com a UE, 37% dos alimentos vendidos estão embalados com plástico. Estes impactam não só o ambiente mas também a saúde humana, levando a perdas económicas significativas e perdas ambientais incalculáveis. A National Geographic publicou que em 2010, que oito milhões de toneladas de lixo plástico acabaram no oceano de países costeiros, e identificou a China como uma das principais fontes de detritos plásticos presentes no oceano, seguida de outros 11 países asiáticos.

Em Portugal, o INE indica que no ano de 2019 os resíduos de embalagens recolhidos por habitante alcançaram valores de 176,1 kg. Embora haja reciclagem de embalagens, ainda é necessário desenvolver embalagens totalmente biodegradáveis. O setor agroindustrial é um dos maiores consumidores de embalagens plásticas.
Em 2019 o setor da Agricultura, floresta e pescas apresentou um aumento nas quantidades de resíduos movimentados e reportados no valor de 29,3 % (INE, 2019). Em geral, grande parte dos subprodutos produzidos no setor de hortofrutícolas incluem as peles e as sementes dos frutos e vegetais, talos e cascas, ou produtos que apresentam danos físicos ou químicos. Tradicionalmente a valorização deste tipo de subprodutos incluem a alimentação animal, a acumulação em aterros, a reutilização na própria agricultura através da reincorporação no solo, a compostagem ou a incineração para aproveitamento como energia a partir da biomassa.

Os dados estatísticos sobre a razão entre partes comestíveis e não comestíveis desperdiçadas não estão de todo disponíveis. Em alguns países com elevado poder de compra há indicações de valores de 50%, em nível doméstico para as partes comestíveis e não comestíveis. Essa falta de informação é uma importante lacuna de conhecimento que poderá fazer diferença na ação do consumidor e no desenvolvimento de novos produtos.

Para muitos resíduos agrícolas não são conhecidas aplicações, mas a valorização destes resíduos é uma estratégia que contribui para a preservação do ambiente e promove a bioeconomia circular, envolvendo os agricultores e empresas de processamento.

Um exemplo simples é da produção de nozes em Portugal, um exemplo que se destaca ao nível dos resíduos alimentares. Considerando a parte comestível do fruto, esta representa aproximadamente 50% do peso total do fruto o que deixa uma enorme quantidade de resíduos produzidos ao longo da colheita e preparação das nozes para comercialização. Por cada tonelada de nozes comercializada é gerada cerca de 1 t de resíduos que necessitam de ser cuidados, e por apresentarem toxicidade as hipóteses de aproveitamento são reduzidas.

As estratégias de bioeconomia têm-se desenvolvido localmente, mas na Europa estima-se que até 2025, cada euro investido pela UE em investigação e inovação em bioeconomia poderá gerar 10 euros de valor acrescentado (CE 2012).
Várias oportunidades e ideias têm sido desenvolvidas para dar uso aos resíduos da agroindústria, desde produtos à base de resíduos, a produção de energia, a químicos intermediários ou até materiais como os bioplásticos.

A grande variedade de qualidade e volume de desperdício alimentar é a primeira dificuldade enfrentada por quem quer aproveitar resíduos, pois é necessário que estes sejam bem separados e a qualidade normalizada para que sejam identificados. São necessárias infraestruturas adequadas para armazenamento, uma vez que estes resíduos se decompõem rapidamente. Para além disso, a exigência do mercado por produtos de base biológica e reciclados está dependente do apoio legislativo e de uma maior consciência pública. Por fim, é necessário ter em conta a viabilidade económica e as limitações tecnológicas para a valorização de resíduos.

A viabilidade económica está dependente de diversos fatores, como o tipo de resíduos gerados na área selecionada, os custos de transformação, a disponibilidade da biomassa, despesas de transporte, despesas com matérias-primas e outras despesas industriais comuns. Para além disso, é necessário ter em conta que o tipo de resíduo gerado varia consoante a sazonalidade.

Diversos resíduos alimentares e agroflorestais têm sido alvo de estudo para produção de alternativas ao plástico.

Este reaproveitamento e valorização de resíduos agroindustriais é uma forma de proteger a saúde humana e o ambiente, e criar valor.

No caso da reutilização dos resíduos da agroindústria, com o conhecimento da composição geral destes resíduos será possível desenvolver novos produtos, gerar dividendos e ainda colmatar as deficiências do mercado e de forma sustentável praticar a economia circular.

Mara Braga