Gaita-de-Foles de Coimbra

GAITAS DE FOLES COIMBRA1

 

Gaiteiros foi a temática de mais um encontro que Almalaguês acolheu em meados de Janeiro passado, e que chegou até Coimbra com um desfile de grupos pela Baixa da cidade e uma animada e didáctica tertúlia intitulada Cantigas de Taberna e Fado. Esta última decorreu no Café Santa Cruz, versando a música, as histórias, a boémia e a paixão e, até, o fado de Coimbra. Para tal, muito contribuiu a presença do grupo Muiñeros do Saarela, de Santiago de Compostela, gente tão próxima de nós, culturalmente falando! Sensibilizou-me o que ali vi e ouvi no decurso das diversas intervenções, chegando à conclusão que, efectivamente, a gaita- de-foles é um instrumento do Mundo, com tantas e variadas apresentações, como atestam os mais antigos documentos e particularmente as suas iluminuras. Daí poder dizer-se, porquanto instrumento de raiz popular, que ela sempre esteve em Coimbra. Esta opinião é partilhada pelo Engº António Freire, do grupo de Gaiteiros da Rainha Santa, a quem se deve um aturado estudo sobre esta matéria que, no fundo, corrobora o parecer do Professor Nelson Correia Borges a respeito dos gaiteiros por estas terras, referindo que eles sempre tocaram nas tabernas, nos pátios, nas fogueiras e nas mais diversas romarias e manifestações da nossa gente. Uma nota curiosa que ali foi ouvida referiu as características da chamada gaita-de-foles de Coimbra, mais utilizada para tocar ao ar livre. Maior que as outras que conhecemos, tem, por isso, um som mais grave que as usadas em espaços fechados. Uma outra característica que sobressai são os enfeites, como as fitas multicolores das pastas dos estudantes, a atestar uma interligação com a academia e vice-versa. De facto, os gaiteiros sempre foram vistos com grande regozijo nos Cortejos da Queima das Fitas, nas latadas e, recuperando memórias, quando o aluno que estava a fazer o último exame, e dali saía formado, pertencia a uma república. Frequentemente tinha à espera os colegas e os amigos que, após o rasganço, o acompanhavam pela Baixa, a cumprimentar a população, sempre com o gaiteiro atrás. Não raro, a paragem final era no Terreiro da Erva, quando ainda funcionavam as casas de porta aberta, aonde o novo doutor subia para se despedir das meninas! E enquanto tal acontecia, os gaiteiros, cá em baixo, marcavam o compasso. Tempos! Também nas festas da cidade, eles sempre estavam presentes, ou para as anunciar ou mesmo para participar em actos litúrgicos, como acontecia habitualmente na procissão do Corpo de Deus e nas demais celebrações das capelas dos arrabaldes. Nas zonas rurais participavam, de igual modo, nos rituais religiosos, e ainda nos compassos por altura da Visita Pascal, e mesmo em funerais para onde, continuam a ser contratados a fim de responderem à vontade manifestada de quem faleceu, quase sempre para tocar e cantar modas alegres, ao descer à cova. Disso são exemplo aquelas duas senhoras aqui de perto, uma a querer a Laurindinha, e a outra, Ó Rosa arredonda a saia! E encerro a narrativa sobre esta tertúlia com uma referência ao fado do Sacristão de Stª Cruz, recolhido pelos nuestros irmanos galegos e ali interpretado conjuntamente pelas guitarras, pelas violas e pelas gaitas-de-foles, com a música do fado Hilário e a voz de todo um auditório apinhado de gente.

 

14-02-2025
António Castelo Branco