Carta ao (à) meu (minha) neto (a).

Querido neto (a) escrevo-te esta carta ainda tu não existes nem há garantia
que venhas a existir. Como tenho dois filhos espero que um dia seja uma
realidade e que eu esteja cá para te ver, para te ajudar, para te mimar.

Gostaria nesta carta aberta de te tranquilizar. Eu sou como quase todos os
avós deste mundo que gostam sinceramente dos netos, dos filhos dos nossos
filhos. Dizem que ser avô é ser pai duas vezes. Espero que sim que assim
seja.

E tranquilizar porquê? Não sei como será a sociedade em que vais nascer mas
eu quando te der um beijo na face é um sinal de amor e não de um qualquer
assédio. Quando tu me deres um beijo na bochecha, ali na parte que não
pica, estarás apenas a retribuir e se os teus pais te disserem para o fazer
não estão a exercer qualquer violência sobre ti e o teu corpo, eles estarão
a querer agradar-me, um piegas que só chora com coisas ligadas à família. E
eu agradecerei porque embora não te conheça sei que vou gostar muito de ti.
E vou querer fazer-te cócegas na barriga mas só para te divertir, não tenho
qualquer interesse em te tocar na barriga senão por isso. E quando te pedir
que venhas para o meu colo é para brincar aos cavalinhos, cavalinho
chó-chó, uma brincadeira que não visa roçar-te os joelhos pelos glúteos. Se
fores menino e pedires ajuda para fazer xixi poderei tocar-te mas só para
dirigir o esguicho para não ir para o chão e não ter de ouvir o ralhete da
tua avó. Se te der banho é para ficares a cheirar bem e juro que não
tirarei fotos para não ser acusado de violar o teu direito à privacidade,
guardarei essas imagens carinhosas na minha memória se ela na altura ainda
funcionar. Se alguma vez te repreender não será de certeza em modo
agressivo e só estarei a usar a minha experiência para te ensinar para que
possas crescer melhor e em segurança. Não estarei a violar a tua autonomia
nem a impedir a tua liberdade de escolha.

Ó meu (minha) neto (a) vamos divertir-nos muito. Tens total liberdade para
ser quem quiseres, só uma coisa exijo, inegociável, tens de ser da
Académica, claro.

Não sei como será nessa altura mas se aparecerem uns gajos a dizer que a
tua relação com o teu avô pode não ser correta, pode até ser apelidada em
algumas partes como violenta, olha embora ainda não saibas o que significa,
manda-os f**er que foi o que eu fiz aos Daniel Cardoso desta vida em 2018.

Um grande beijinho repenicado e na bochecha.

Do avô Rui.

Rui Rodrigues

Coimbra

Imagem GNR - Bom dia avô