LÍNGUA DOCE DE CHOCOLATE
Falam português os maiores e melhores produtores de cacau do mundo. Pois é nas ilhas de São Tomé e Príncipe que se faz um dos melhores chocolates do mundo e é no Brasil que se produz uma das maiores quantidades de cacau a nível internacional.
A unir uma das melhores qualidades de chocolate com a maior quantidade de produção de cacau do Brasil está a língua oficial que é o português. Sendo que a união de um dos maiores países do mundo com um dos mais pequenos países, como é o arquipélago de São Tomé e Príncipe, só traria mais vantagens para a comunidade dos países falantes do português.
No Brasil, técnicos da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), juntamente com representantes da Fundação CocoaAction Brasil e com representantes da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) apresentaram recentemente um panorama sobre o aumento da plantação de cacau no Brasil, destacando as viabilidades de expansão no próprio Estado de São Paulo.
O cultivo de cacau já é uma realidade em São Paulo e deve substituir no futuro próximo áreas dedicadas a outras culturas, como laranja e banana. O governo paulista estima que há, hoje, 300 hectares de cacau plantados no Noroeste do estado e outros cerca de 300 hectares no Litoral e no Vale do Ribeira o que acrescenta ao poder de exportação do cacau cultivado no imenso país que é o Brasil.
Em contrapartida São Tomé e Príncipe é o segundo menor país da África, atrás apenas das ilhas Seychelles. Mas, pouco mais de 100 anos atrás, esta minúscula nação composta por duas ilhas era o maior produtor de chocolate do mundo. Qualidade que foi apurando.
A produção dos fabricantes de chocolate ainda usam métodos artesanais com técnicas diferentes durante os principais estágios, como a: colheita, fermentação, secagem e torrefação, com o objetivo de criar subtis diferenças no sabor o que valoriza a matéria prima do cacau. Um dos cuidados é o de retirar manualmente o tegumento (a casca amadeirada que cobre cada amêndoa de cacau) e a sua estrutura tegumentar dura e amarga. Muito poucos fabricantes de chocolate se dão ao trabalho de remover esta estrutura tegumentar o que torna mais amargo o sabor do cacau.
Depois outras técnicas usadas na minúscula São Tomé e Príncipe como a fermentação do cacau por duas ou três vezes mais tempo do que o padrão e a torrefação feita pela intuição dos conhecedores, adquirida ao longo do tempo, dão o paladar de um chocolate, que tendo na sua composição 100% de cacau é forte, mas não amargo. Criando um efeito, a quem come o chocolate produzido em São Tomé e Príncipe, que quanto mais tempo fica dentro da boca, mais suave se torna, dando um toque aveludado.
Este efeito contraria a ideia que o bom chocolate é escuro e amargo. O amargo resulta da má preparação do cacau, onde não muitas das vezes não é retirado o tegumento; e escuro é por que a torrefação, provavelmente foi mal executada e queimou demasiado o preparado, dando o aspeto de ficar mais escuro.
Até o início dos anos 1800, só havia plantação de cacau na América Latina. Foi quando o rei de Portugal, Dom João VI (1767-1826), percebeu que estava a ponto de perder o Brasil como colónia portuguesa. Antevendo, por isso, a perda da receita oriunda da indústria brasileira de cacau. Por isso ordenou que fossem embarcados cacaueiros para São Tomé e Príncipe. O que apurou a fabricação de chocolate neste pequeno arquipélago africano.
As árvores chegaram à ilha do Príncipe em 1819 formando as primeiras plantações e formando as primeiras castas de cacau. Os cacaueiros desenvolveram-se no rico solo vulcânico das ilhas e no início dos anos de 1900, São Tomé e Príncipe era o maior exportador de cacau do mundo, o que lhe valeu o apelido de “Ilhas do Chocolate”.
Depois da independência das colónias africanas voltaram a ser recuperadas as quintas de cultivo de cacau. Hoje, a floresta montanhosa está coberta por uma diversidade de árvores. Bananeiras fornecem sombra para os cacaueiros jovens, enquanto os coqueiros e mulungus servem de andar superior de proteção para os cacaueiros mais velhos, já em produção. E as árvores de fruta-pão estão espalhadas entre as demais, com seus frutos caídos agindo de composto para o solo. Numa combinação de excelência do cacau.
É natural que surja a pergunta “se o chocolate de São Tomé e Príncipe é feito com o mesmo cacau que já esteve presente em terras brasileiras, o que faz dele tão diferente dos demais?” É exactamente evitando transformar o cultivo do cacau como monocultura e usando outras plantações e outras diversidades de plantas próximas do cultivo deste produto que é usado para mais transformações do que apenas o chocolate.
Enquanto no Brasil um dos grandes desafios, para garantir o sucesso da cultura em larga escala, é a eliminação de doenças e a preparação com meios económicos e técnicos para o aumento do cultivo do cacau. Planta que pode ser mais uma alternativa viável para áreas degradadas por outras culturas brasileiras. Mas talvez que a maior relação entre o gigante Brasil e o minúsculo São Tomé e Príncipe possa criar um maior desenvolvimento económico que beneficie os dois países de expressão portuguesa.
O Ponney lembra que o Brasil ocupa o sexto lugar na lista, com uma produção de 273 mil toneladas (dados de 2022,) sendo que a maioria das plantações de cacau no Brasil concentra-se na Bahia e no Pará. Diversos técnicos consideram que o Brasil tem potencial para estar entre os três maiores produtores globais, superando até mesmo o Equador e com esta, possível parceria com São Tomé e Príncipe, pode ter maior lucro se também transformar o cacau em produtos para o consumidor final.
AG